domingo, 2 de maio de 2010

Crítica do filme "Alice no País das Maravilhas".

'Alice no País das Maravilhas' de Tim Burton ganha ar de pesadelo
Vindo de Tim Burton, não podia se esperar diferente. Sua adaptação de Alice no País das Maravilhas, cuja première ocorreu na noite de quinta-feira em Londres, transformou o mundo onírico do clássico de Lewis Carroll "em algo mais próximo de seus mais diletos pesadelos", diz uma crítica no jornal britânico The Times assinada por Kate Muir. Mas no bom sentido, é claro.
A impressão da articulista foi compartilhada por Geoffrey Macnab, do Independent. "O País das Maravilhas de Burton não é nada aconchegante. É um mundo gótico subterrâneo habitado por criaturas ameaçadoras e que mudam de forma", adverte. Quanto à parte famosa em que Alice muda de tamanho, avalia que "há uma qualidade alucinatória na narrativa", incrementada por uma trilha sonora "sombria e dramática".
Filmado com câmeras convencionais e depois convertido para o formado 3D, o filme parece ter decepcionado na questão do efeito visual. "Alice no País das Maravilhas fracassa em se igualar a Avatar como uma experiência imersiva", escreve Hugh Hart, da revista Wired. "Mas a profundidade de campo estereoscópica do filme se transforma em mero glacê no bolo da narrativa quando você tem flores raivosas, monstros imaginários babões e personagens absolutamente excêntricos com quem trabalhar".
Os personagens da adaptação são os mesmos: Alice (Mia Wasikowska), O Chapeleiro Maluco (Johnny Depp), a Rainha de Copas (Helena Bonham Carter), a Rainha Branca (Anne Hathaway), entre outros. Mas o roteiro escrito por Linda Woolverton se desvia um pouco da versão original, fazendo, na verdade, uma continuação de Alice no País das Maravilhas, com a protagonista já em seus 19 anos.
Ao explicar a nova leitura que deu a Alice, Burton disse que nunca havia encontrado uma versão definitiva do clássico para o cinema. "Existiram 20 e tantas versões dele e nenhuma delas jamais se conectou comigo", disse o diretor, segundo reportagem da agência de notícias France-Press. "Então, a ideia era pegar esse material, posicionar em uma história diferente deixando [Alice] um pouco mais velha e explorando a ideia da vida interior de alguém".

Revista Veja (26/02/2010)

domingo, 25 de abril de 2010

"Beba coca-cola" - Décio Pignatari

beba coca cola
babe          cola
beba coca
babe cola caco
caco
cola
             c l o a c a

Em seu poema "beba coca-cola" , poema mais conhecido da produção de Décio Pignatari, é possível encontrar algumas características do Concretismo na poesia: a presença de um símbolo da vida moderna, urbana e industrializada, e a troca na ordem das letras do famoso slogan "Beba Coca-Cola". Mas o tom do poeta é irônico e crítico, principalmente ao usar letras do nome Coca-Cola para terminar o poema com a palavra "cloaca", que significa esgoto, ou numa acepção mais ampla, conforme dicionário Houaiss, "tudo que é imundo, que tem mau cheiro".

Sartre e a literatura

O filósofo Jean-Paul Sartre (1905-1980) contribui particularmente para o desenvolvimento e a popularização do existencialismo, sistema filosófico segundo o qual o homem é o principal responsável por sua própria existência. Escreveu ensaios filosóficos, como O ser e o nada, e importantes peças de teatro, como A naúsea. Em O que é a literatura? (1948), Sartre, a partir de três perguntas básicas, descreve a natureza da literatura:
 O que é escrever?
Segundo Sartre, escrever é uma ação de desnudamento. Ao escrever, o escritor revela o mundo, e em especial o homem, aos outros homens, para que estes tomem, ante o objetivo assim revelado, a sua inteira responsabilidade.
Por que escrever?
O homem que escreve tem a consciência de revelar as coisas, os acontecimentos; de constituir o meio pelo qual os fatos se manifestam e adquirem significado. Ao escrever, o escritor transfere para a obra uma certa realidade, tornando-se essencial a ela, que não existiria sem seu ato criador.
Para quem escrever?
O escritor deve solicitar um pacto com o leitor: que ele colabore para transformar o mundo, a sua realidade.

Eros e Psique - Texto de Fernando Pessoa

Abaporu (1928)

A trindade do amor

Em sua obra-prima Grande sertão: veredas, Guimarães Rosa narra três histórias de amor envolvendo Riobaldo, o personagem-narrador:
. O amor pouco pela recatada Otacilía;
. O amor sensual por Nhorinhá, uma prostituta;
. O amor conturbado e ambíguo por Diadorim, o mais importante e impossível dos três.
A verdadeira identidade de Diadorim, no entanto, só é relatada ao leitor nas últimas páginas da obra. Conta-se que, à época do lançamento, Guimarães Rosa implorou a seus leitores que não contassem ao seus amigos como seu livro terminava.
O escritor temia que a descoberta desfizesse a magia do enredo. Porém, mais importante que a trama ou os segredos que ela guarda, a elaboração formal é que permitiu que Grande sertão: veredas se transformasse em uma das obras-chave da literatura ocidental moderna.

AQUARELA TOQUINHO

My fair lady

Essa comédia musical, dirigida por George Cukor em 1964, baseia-se na peça Pigmaleão, que parte do mito clássico do Pigmaleão, um escultor que se apaixonou por uma estátua que ele mesmo tinha feito e que se converte em mulher de carne e osso. Na versão de George Bernard Shaw - e na adaptação para o cinema-, um professor corrige e educa uma moça simples para que ela se torne uma dama elegante, refinada e culta por quem, no final, se apaixona.

O mito arturiano:origem e continuidade


+ Saiba mais

TEATRO ROMANO

Em certos teatros romanos remanescentes, continuam sendo montadas representações de obras latinas. O de Mérida, na Espanha, é um dos mais bem conservados entre os construídos naquela época, e um dos melhores da Europa. Ele foi erguido por volta de 15 a.C. e é constituído das seguintes partes:
*Cave ou grade- a partir de onde os espectadores contemplam sentados a representação. Tinha partes diferentes, cada uma das quais destinada a uma classe social.
*Orquestra-  semicírculo entre a cena e a grade.
*Cena- espaço retangular onde ocorre a representação e o "fons scenae", edifício de colunas que servia como decoração permanente.
Os teatros eram destinados a abrigar não apenas representações teatrais e recitais de música, mas também eventos políticos e religiosos.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

La Fontaine

A influência de La Fontaine como fundador da fábula moderna tem sido enorme. Tanto o componente didático e fantástico como o aspecto aparentemente infantil fizeram com que as fábulas de La Fontaine fossem publicadas em inúmeras ocasiões ao longo dos séculos, até chegar aos dias atuais. No Brasil, "A cigarra e a Formiga" foi uma das que mereceram adaptação de Monteiro Lobato (1882- 1948).

Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer

É um não querer mais que bem querer
É solitário andar por entre a gente
É nunca contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder

É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence, o vencedor
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís Vaz de Camões
    

Tecendo a manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

2
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
 João Cabral de Melo Neto

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Sampa

Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas
Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E a mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes
E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso
Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva
Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
E os novos baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa
 Caetano Veloso

O retrato

"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?"

Cecília Meireles











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Uma história de leitura