domingo, 25 de abril de 2010

"Beba coca-cola" - Décio Pignatari

beba coca cola
babe          cola
beba coca
babe cola caco
caco
cola
             c l o a c a

Em seu poema "beba coca-cola" , poema mais conhecido da produção de Décio Pignatari, é possível encontrar algumas características do Concretismo na poesia: a presença de um símbolo da vida moderna, urbana e industrializada, e a troca na ordem das letras do famoso slogan "Beba Coca-Cola". Mas o tom do poeta é irônico e crítico, principalmente ao usar letras do nome Coca-Cola para terminar o poema com a palavra "cloaca", que significa esgoto, ou numa acepção mais ampla, conforme dicionário Houaiss, "tudo que é imundo, que tem mau cheiro".

Sartre e a literatura

O filósofo Jean-Paul Sartre (1905-1980) contribui particularmente para o desenvolvimento e a popularização do existencialismo, sistema filosófico segundo o qual o homem é o principal responsável por sua própria existência. Escreveu ensaios filosóficos, como O ser e o nada, e importantes peças de teatro, como A naúsea. Em O que é a literatura? (1948), Sartre, a partir de três perguntas básicas, descreve a natureza da literatura:
 O que é escrever?
Segundo Sartre, escrever é uma ação de desnudamento. Ao escrever, o escritor revela o mundo, e em especial o homem, aos outros homens, para que estes tomem, ante o objetivo assim revelado, a sua inteira responsabilidade.
Por que escrever?
O homem que escreve tem a consciência de revelar as coisas, os acontecimentos; de constituir o meio pelo qual os fatos se manifestam e adquirem significado. Ao escrever, o escritor transfere para a obra uma certa realidade, tornando-se essencial a ela, que não existiria sem seu ato criador.
Para quem escrever?
O escritor deve solicitar um pacto com o leitor: que ele colabore para transformar o mundo, a sua realidade.

Eros e Psique - Texto de Fernando Pessoa

Abaporu (1928)

A trindade do amor

Em sua obra-prima Grande sertão: veredas, Guimarães Rosa narra três histórias de amor envolvendo Riobaldo, o personagem-narrador:
. O amor pouco pela recatada Otacilía;
. O amor sensual por Nhorinhá, uma prostituta;
. O amor conturbado e ambíguo por Diadorim, o mais importante e impossível dos três.
A verdadeira identidade de Diadorim, no entanto, só é relatada ao leitor nas últimas páginas da obra. Conta-se que, à época do lançamento, Guimarães Rosa implorou a seus leitores que não contassem ao seus amigos como seu livro terminava.
O escritor temia que a descoberta desfizesse a magia do enredo. Porém, mais importante que a trama ou os segredos que ela guarda, a elaboração formal é que permitiu que Grande sertão: veredas se transformasse em uma das obras-chave da literatura ocidental moderna.

AQUARELA TOQUINHO

My fair lady

Essa comédia musical, dirigida por George Cukor em 1964, baseia-se na peça Pigmaleão, que parte do mito clássico do Pigmaleão, um escultor que se apaixonou por uma estátua que ele mesmo tinha feito e que se converte em mulher de carne e osso. Na versão de George Bernard Shaw - e na adaptação para o cinema-, um professor corrige e educa uma moça simples para que ela se torne uma dama elegante, refinada e culta por quem, no final, se apaixona.

O mito arturiano:origem e continuidade


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TEATRO ROMANO

Em certos teatros romanos remanescentes, continuam sendo montadas representações de obras latinas. O de Mérida, na Espanha, é um dos mais bem conservados entre os construídos naquela época, e um dos melhores da Europa. Ele foi erguido por volta de 15 a.C. e é constituído das seguintes partes:
*Cave ou grade- a partir de onde os espectadores contemplam sentados a representação. Tinha partes diferentes, cada uma das quais destinada a uma classe social.
*Orquestra-  semicírculo entre a cena e a grade.
*Cena- espaço retangular onde ocorre a representação e o "fons scenae", edifício de colunas que servia como decoração permanente.
Os teatros eram destinados a abrigar não apenas representações teatrais e recitais de música, mas também eventos políticos e religiosos.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

La Fontaine

A influência de La Fontaine como fundador da fábula moderna tem sido enorme. Tanto o componente didático e fantástico como o aspecto aparentemente infantil fizeram com que as fábulas de La Fontaine fossem publicadas em inúmeras ocasiões ao longo dos séculos, até chegar aos dias atuais. No Brasil, "A cigarra e a Formiga" foi uma das que mereceram adaptação de Monteiro Lobato (1882- 1948).

Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer

É um não querer mais que bem querer
É solitário andar por entre a gente
É nunca contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder

É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence, o vencedor
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís Vaz de Camões
    

Tecendo a manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

2
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
 João Cabral de Melo Neto

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Sampa

Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas
Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E a mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes
E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso
Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva
Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
E os novos baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa
 Caetano Veloso

O retrato

"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?"

Cecília Meireles











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Uma história de leitura